EVA&CIA

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domingo, 30 de dezembro de 2012

um reconto do Elmer


 Elmer, o Elefante (reconto)
Elmer o elefante xadrez;
 Era uma vez uma manada de elefantes. Elefantes novos, elefantes velhos, elefantes altos, magros ou gordos. Elefantes assim, elefantes assado, todos diferentes, mas todos felizes e todos da mesma cor. Todos, quer dizer, menos o Elmer. 
O Elmer era diferente. O Elmer era aos quadrados. 
O Elmer era amarelo e cor de laranja e encarnado e cor-de-rosa e roxo e azul e verde e preto e branco. 
O Elmer não era cor de elefante. 
Era o Elmer que mantinha os elefantes felizes. Às vezes, era ele quem pregava partidas aos outros elefantes, e, às vezes, eram os outros que lhe pregavam partidas. Mas quando havia um sorriso, mesmo pequenino, normalmente era o Elmer que o tinha causado.
Uma noite, o Elmer não conseguia dormir; estava a pensar que estava farto de ser diferente. “Quem é que já ouviu falar de um elefante aos quadrados”, pensou ele. “Não admiro que riam de mim.” De manhã, enquanto os outros ainda estavam meio a dormir, o Elmer escapou muito de mansinho, sem ninguém dar por isso.
Enquanto atravessava a floresta, o Elmer encontrou outros animais.
Todos eles diziam: “Bom dia, Elmer.” E, de cada vez, o Elmer sorria e dizia: “Bom dia.”
Depois de muito andar, o Elmer encontrou aquilo que procurava – um grande arbusto coberto de frutos cor de elefante. O Elmer agarrou-se a ele, abanou-o e tornou a abaná-lo, até os frutos caírem todos no chão.
Depois de o chão estar todo coberto de frutos, o Elmer deitou-se e
rebolou-se para um lado e outro, uma vez e outra vez. Depois, pegou os cachos de frutos e esfregou-se todo com eles, cobrindo-se com o sumo, até não haver sinais de amarelo, nem cor de laranja, nem de encarnado, nem de cor-de-rosa, nem de roxo, nem de azul, nem de verde, nem de preto, nem de branco. Quando acabou, Elmer estava parecido com outro elefante qualquer.
O Elmer então dirigiu-se de regresso à manada. No caminho, voltou a passar pelos outros animais. Dessa vez, cada um deles lhe disse: “Bom dia, elefante.” E, cada vez que Elmer sorriu, disse: “Bom dia”, já muito satisfeito por não ser reconhecido.
Quando o Elmer se juntou aos outros elefantes, eles estavam todos muito quietos. Nenhum deles deu pelo Elmer, enquanto ele se metia no meio da manada.
Passado um bocado, o Elmer sentiu que havia qualquer coisa que não estava bem. Mas que seria? Olhou em volta: a mesma selva de sempre, o mesmo céu luminoso de sempre, a mesma nuvem escura que aparecia de tempos em tempos e, por fim, os mesmos elefantes de sempre. O Elmer olhou para eles.
Os elefantes estavam absolutamente imóveis. O Elmer nunca os tinha visto tão sérios. Quanto mais olhava para os elefantes sérios, silenciosos, sossegados, soturnos, mais vontade tinha de rir. Por fim, não conseguia aguentar mais. Levantou a tromba e berrou com quanta força tinha:
BUUU!
Com a surpresa, os elefantes deram um salto e caiu cada um para seu lado. “São Trombino nos valha!”, disseram eles, e depois viram o Elmer rir perdidamente. “Elmer”, disseram eles. “Tem de ser o Elmer.” E, depois, os outros elefantes também riram como nunca tinham rido.
Enquanto estavam a rir, a nuvem escura apareceu, e quando a chuva começou a cair em cima do Elmer, os quadrados começaram a aparecer outra vez. Os elefantes não paravam de rir, enquanto o Elmer voltava às cores do costume. “Oh, Elmer”, ofegou um velho elefante. “Já tens pregado boas partidas, mas esta foi a melhor de todas. Não levaste muito a mostrar as tuas verdadeiras cores.”
“Temos de comemorar este dia todos os anos”, disse outro. “Vai ser o dia do Elmer. Todos os elefantes vão ter de se pintar e o Elmer vai se pintar de cor de elefante.”
E é isso mesmo que os elefantes fazem. Num certo dia do ano, pintam-se todos e desfilam. Nesse dia, se vires um elefante com a cor vulgar de um elefante, já sabes que deve ser o Elmer.

MCKEE, D. (1997). Elmer (Tradução de J. Oliveira, 4ª edição). Lisboa: Caminho.

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